Engraçado como a vida dá voltas. Há um ano, alguém que passou pela minha vida brincava comigo, dizendo “querido diário”, fazendo referência à Jade Picon. Uma brincadeira nossa. Algumas semanas atrás, a própria Jade repostou uma matéria da minha revista que escrevi sobre ela.
Em um ano, muita coisa pode mudar. Pessoas novas entram, pessoas vão embora. Mas o que não muda são as lembranças e o carinho que criamos por elas. Algumas relações se transformam, outras seguem caminhos opostos, e algumas, surpreendentemente, encontram novas formas de conexão. No fim das contas, a vida é como um grande texto em constante edição e certas histórias, por mais que pareçam encerradas, sempre encontram um jeito de ganhar um novo parágrafo.
Não converso mais com essa pessoa. Ela está bloqueada em quase tudo, e esse texto vai justamente para ela. Irônico, não? Mas a verdade é que algumas histórias não precisam de uma reabertura para deixarem sua marca. Elas seguem existindo, mesmo que silenciosas, nos detalhes inesperados numa repostagem, numa memória que surge do nada, ou até num texto que, de alguma forma, encontra seu caminho até quem inspirou cada palavra.
Ele, em um curto espaço de tempo, marcou minha vida de uma forma que nem eu esperava. Me fez perder o medo de sentir novamente, de abrir o coração para algo novo, mesmo sem garantias. E, talvez sem nem perceber, ele me devolveu o amor pela escrita.
Eu, que passei anos sem escrever, me vi, no ano passado, escrevendo para ele. Como se, de repente, todas as palavras que estavam adormecidas dentro de mim encontrassem um novo propósito. Ele não apenas me fez sentir de novo, me fez escrever de novo.
E isso, talvez, tenha sido o maior presente e a maior ironia da nossa história. Porque, no fim, ele foi, mas deixou comigo aquilo que sempre foi meu: as palavras, a capacidade de transformar sentimentos em texto, de dar voz ao que antes era só silêncio. Ele pode ter sido a inspiração, mas fui eu quem pegou a caneta e escreveu.
Algumas pessoas entram na nossa vida para ficar, outras apenas passam, mas sempre deixam algo para trás. No caso dele, foi a lembrança, a inspiração e, de certa forma, essa página em branco que nunca mais ficou vazia.
Ele está marcado em mim de uma forma que só a gente sabe. Não é sobre fotos guardadas ou conversas revisitadas, é sobre algo mais profundo, mais silencioso. Algo que não se apaga, mesmo quando a vida segue em direções opostas.
Eu sei das suas fraquezas, dos seus medos e até mesmo daquilo que ele nunca teve coragem de falar. Às vezes, o silêncio diz mais do que mil palavras, e as coisas que ele nunca ousou dizer, eu soube ler nas entrelinhas. Por outro lado, ele conheceu um lado meu que poucos têm acesso. Aquele que, por vezes, é guardado com carinho e um pouco de receio. O lado mais vulnerável, mais real aquele que me permite ser inteira, sem máscaras, sem barreiras.
Nosso final não foi digno da história que prometeu ser a maior das histórias de amor. Não teve cena grandiosa, nem um último capítulo arrebatador. (Acho que nunca vou perdoá-lo por ser baixo o suficiente para usar as nossas músicas com outra pessoa. Canções que eu apresentei a ele, que foram trilha sonora de momentos que, na minha cabeça, eram só nossos.)
Mas por outro lado, quando essas coisas grandiosas acontecem, dá uma vontade de contar para ele. Contar que tudo está dando certo. Contar que todos os meus sonhos estão se realizando de uma maneira que eu mal podia imaginar. Contar que cada conquista, cada passo, tem sido meu, sem depender de ninguém para validá-los.
Dá vontade de contar que aquela rosa do quadro que ele me deu, agora está eternizada em um anel. Uma pequena lembrança, mas que carrega tanto significado. Um símbolo de algo que parecia ser eterno, mas se transformou em memória. E que a promessa do “você sempre vai estar comigo”… bom, eu dei um jeito de cumprir. De uma maneira que, talvez, ele não tenha imaginado.
Ele, definitivamente, foi uma delas.
Aquelas pessoas que chegam como um furacão, bagunçam tudo e, de alguma forma, fazem você sentir saudade até do que nunca viveu. Ele era assim: intenso, imprevisível, impossível de ignorar. Como um filme que te prende do começo ao fim, mas termina antes da cena final.
E talvez seja por isso que ele as vezes aparece nos meus pensamentos. Porque algumas histórias não precisam de um desfecho claro para continuarem existindo dentro de nós. Algumas pessoas entram na nossa vida e deixam marcas que nem o tempo apaga. Elas se tornam parte de quem fomos, de quem nos tornamos.
E ele, com toda a sua bagunça e encanto, foi exatamente isso: um capítulo caótico, vibrante, e, acima de tudo, inesquecível.