Foto reprodução instagram @veigh
Se você tem TikTok, certamente já cruzou com um vídeo de alguma garota dublando aquele trecho chiclete de “Vem Desestressar”: “Fala o presente que eu te trago, que que cê quer daqui? Pede no ouvido do Thiago.” Mas afinal, quem é Thiago?
Bom, o verdadeiro sinal de sucesso é quando alguém transcende sua própria bolha. No dia em que postei ouvindo, logo me perguntaram: “Você? Ouvindo trap?” Sim, eu, que vos escrevo, agora consumo trap por causa do Thiago, mais conhecido como Veigh. E tudo isso por causa de alguém que cruzou meu caminho no início do ano.
Se você também não conhece esse nome, sugiro que se acomode, prepare um cosmopolitan ou um bom vinho, e procure por ele no Spotify. Vamos mergulhar juntos na história desse artista que me chamou atenção com sua arte, sua história e, claro, sua relação com a moda.
Criado na periferia de Cohab 1, em Itapevi, São Paulo, Veigh, com apenas 23 anos, está quebrando recordes na cena musical. Aos 22, ele atingiu um marco impressionante com seu segundo álbum, Dos Prédios Deluxe, que se tornou a maior estreia de um artista nacional no Spotify em 2023. A faixa “Novo Balanço” lidera como a música de trap mais ouvida no Spotify Brasil, acumulando quase 230 milhões de reproduções, e mais de 480 milhões de streams, somando Spotify, YouTube e Apple Music. Um sucesso que vai além do som, é uma verdadeira conquista da arte e da cultura de onde ele veio.
Sempre tive o hábito de pesquisar sobre as pessoas que consumo, sou curiosa por natureza e com Veigh não foi diferente. Quem era esse jovem que estava crescendo tão rápido e exercendo tanta influência? Foi nesse mergulho investigativo que me deparei com uma das histórias mais lindas e emocionantes que já encontrei, e, por que não dizer, surpreendente.
Descobrir a trajetória dele não foi apenas entender a origem de um artista, mas me conectar com algo muito maior: a luta, a resiliência e o poder de transformar desafios em força criativa. E é justamente isso que me faz admirar ainda mais o trabalho de Veigh, porque, no fim, ele não canta apenas sobre o que viveu, ele canta sobre todos nós.
Thiago improvisava rimas de funk na palma da mão, com raízes fincadas nas ruas. Ele já foi skatista profissional, garçom, trabalhou como puxador nas lojas da 25 de Março e até em telemarketing aos 17 anos, antes de mergulhar de cabeça na música. Desde cedo, Thiago já mostrava seu potencial. Em uma era em que a conexão virtual não suaviza as dificuldades do mundo real, apenas os fortes sobrevivem. E Thiago não só sobreviveu, ele prosperou. Sua trajetória é um exemplo vivo de que, mesmo sem as mesmas oportunidades que alguns têm, foco, garra e determinação podem mover montanhas. Mas, no caso dele, também havia algo especial: Miriam.
Miriam, a mãe de Thiago, é, sem dúvida, uma das pessoas mais elegantes que já conheci. E quando falo de elegância, não estou me referindo apenas à estética. Uma vez ouvi Tony Ramos dizer que elegância está na simplicidade, na forma como tratamos os outros, independentemente de sua classe social ou do que possam nos oferecer. Miriam encarna essa definição. Sua presença é calma, genuína e cheia de luz. É impossível não se encantar com a simplicidade e a força que ela carrega.
Ela é o tipo de pessoa que nos lembra que, por trás de todo grande talento, muitas vezes há uma mãe que nunca desistiu, que foi uma fortaleza nos bastidores, garantindo que seu filho acreditasse em si mesmo. E talvez seja justamente isso que faz de Thiago, o Veigh, o artista que ele é hoje: um reflexo do amor, da força e da elegância de sua mãe.
Thiago não apenas inspira com sua história de vida, mas também com seu impacto nos esportes. Amante declarado do boxe, ele compartilha seus treinos diários nas redes sociais, mostrando disciplina e dedicação, além de constantemente reforçar mensagens positivas, especialmente sobre a importância de dizer “não” às drogas.
Em uma época em que somos bombardeados por influências vazias e superficiais, Veigh se destaca por ter um propósito claro. Ele não está apenas em busca de sucesso pelo sucesso, ele quer ser uma voz de mudança, alguém que, além de inspirar musicalmente, oferece um exemplo de superação, disciplina e valores. É raro encontrar alguém com tanto alcance que use sua plataforma de forma tão consciente.
Mas a influência de Veigh vai além da música e do esporte; ele também se destaca no mundo da moda. Seu estilo único e autêntico é um reflexo não apenas de sua personalidade, mas também das experiências que moldaram sua vida. A forma como ele se veste e se apresenta é uma extensão de sua arte, uma maneira de se expressar e se conectar com seus fãs. Vamos explorar como a moda se entrelaça com a trajetória de Veigh e como ele se tornou uma referência de estilo para muitos, trazendo um olhar fresco e inovador que ressoa com a cultura urbana contemporânea.
A forma como Veigh se veste tornou-se, rapidamente, sua marca registrada. Mas para entender seu estilo, é preciso mergulhar um pouco na relação entre moda e trap. No Brasil, marcas de luxo estão fortemente presentes no visual dos trappers. Grifes como Balenciaga, Louis Vuitton, Lacoste, Tiffany & Co. e Dolce & Gabbana são apenas algumas usadas por Veigh. Esse gosto pelo luxo compõe um dos pilares da estética do trap: a ostentação.
Entretanto, a ostentação no trap vai além de uma simples exibição de riqueza. Ela está enraizada nas origens e na cultura do gênero, refletindo tanto um estilo de vida quanto uma trajetória de superação. Essa exibição de poder também se conecta ao movimento do “Black Money”. Movimento que surge com objetivo de diminuir desigualdades, promovendo o empoderamento financeiro de pessoas negras.
No contexto do trap, ostentar é mais do que celebrar o sucesso; é uma forma de empoderamento econômico. Conecta-se ao “Black Money” e exibir marcas de luxo, que historicamente não permitiriam a entrada dessas pessoas em suas lojas, é uma forma de resistência. É uma reivindicação de espaço, invertendo a lógica de exclusão e transformando o consumo em um símbolo de poder e autonomia.
Veigh utiliza a moda com propósito, e para nossa surpresa, no dia 17 de outubro, exatamente um mês após o estudo dessa pauta, ele desfilou pela primeira vez na São Paulo Fashion Week. Quem imaginaria que um dos maiores nomes do trap se aventuraria pelas passarelas? Ainda mais representando uma marca como a Artemisi, conhecida por flertar com sensualidade. Para alguns, essa fusão pode parecer inusitada, mas para mim, ela reforça que estilo, assim como a música, é uma forma de expressão e, às vezes, ambas convergem de maneira inesperada.
Ao ver Veigh desfilar e fazer da passarela seu palco, me perguntei: será que o trap está se tornando a nova revolução cultural da moda? Assim como o rap trouxe o streetwear para os holofotes nos anos 90, o trap agora parece moldar o conceito de vanguarda. Sua presença na passarela não era apenas uma jogada de marketing, mas uma verdadeira declaração: a moda é sobre quebrar barreiras, sobre fundir o inesperado com o icônico.
Veigh na passarela da Artemisi não foi apenas um desfile, foi um encontro entre o estilo urbano e a arte, provando que a moda, assim como a música, é um palco para reinventar quem somos.
Ao final, fica claro que Veigh não está apenas ditando tendências musicais, mas também ampliando os limites do que significa ser um ícone cultural. Seu impacto vai além dos streams e dos números impressionantes, ele está ajudando a redefinir como enxergamos o sucesso e a ascensão de quem vem da periferia.
Combinando a ostentação no trap, a força do “Black Money” e seu flerte com a alta moda, Veigh está criando um legado que mistura arte, resistência e expressão pessoal. Ele não fala só com os fãs do trap; seu alcance vai além, chegando até aqueles que, como eu, talvez nunca tivessem parado para ouvir o gênero. E isso é o poder transformador da sua música. Ele conecta diferentes realidades, trazendo novas perspectivas para quem, até então, não fazia parte desse universo.
Olhando para o futuro, uma coisa é certa: Veigh não está apenas vivendo seu momento, ele está criando um movimento. E seja nas playlists ou nas passarelas, sua presença será sentida, inspirando uma nova geração a romper barreiras e se expressar com autenticidade. Afinal, a verdadeira revolução acontece quando encontramos poder em quem somos e celebramos isso em cada passo ou em cada batida.