Cultura
Chuva, Música e Magia: Uma Noite com Maurício Manieri
Isabela Ferreira
07.11.2024

Sábado, 26 de outubro. Palácio das Artes. Eu, meus pais e minha irmã, sentados numa plateia que parecia ser parte da trilha sonora da minha vida. A cada nota de “Just Another Day,” “Please Don’t Go,” e “All Night Long,” eu era transportada para momentos que já vivi e para memórias que ainda estou construindo. Era como se as décadas de 80 e 90 estivessem ali, num abraço musical, orquestrado pelo homem que fez com que eu entendesse o valor dessa era: meu pai.

Meu gosto musical sempre foi um terreno sem cercas da MPB ao funk, já fui de tudo. Mas preciso falar do melhor show que já fui na vida: Maurício Manieri. Uma experiência que não era só música, mas um lembrete de como é importante manter-se fiel ao que se ama.

Essa autenticidade é o combustível da minha escrita e, agora, desta revista. Em um mundo onde publicidade e cifras ditam as linhas de comunicação, decidi criar um espaço para as palavras que eu realmente gostaria de ler. Aqui, cada página é um reflexo da essência, sem filtros. Então te convido nesse exato momento apertar aqui e ouvir All Night Long.

Sempre fui uma pessoa encantada pelos clássicos musicais e pelos shows grandiosos americanos, e havia feito uma promessa a mim mesma e ao meu pai: juntos, ouviríamos ao vivo aquelas músicas que tantas vezes ecoaram pela nossa cozinha em almoços de domingo, enquanto cantávamos e dançávamos, celebrando a vida. Porque, na minha casa, qualquer dia é dia de celebrar.

Quando descobrimos que Maurício Manieri se apresentaria em BH, não hesitamos. Garantimos nossos lugares, porque sabíamos que essa era a nossa chance de transformar uma promessa em realidade. No dia do show, uma chuva como nunca tinha visto desabou sobre a cidade, mas, em retrospectiva, era como se o céu estivesse anunciando algo especial.

Maurício, com sua simpatia contagiante e uma voz que parece envelhecer como um bom vinho, trouxe uma presença magnética ao palco. Desde o primeiro acorde, ele não estava apenas cantando. Ele estava nos guiando por uma jornada através das canções que embalaram nossos romances, corações partidos e momentos de felicidade pura. Ao lado de uma banda que, arrisco dizer, é uma das melhores do Brasil, Maurício ofereceu um espetáculo que era tanto sobre técnica quanto sobre coração. Era mais do que música, era uma dança de emoções e lembranças.

Foto arquivo pessoal

O repertório foi um presente em forma de nostalgia: clássicos como “Rock N’ Roll Lullaby,” com toda a ternura de um abraço, e “Evidências,” que já não é apenas uma música, mas uma espécie de ritual brasileiro. Cada verso, cada melodia parecia sincronizada com as batidas de nossos corações, e a plateia se entregava a cada momento. A energia era quase palpável, uma vibração que atravessava as fileiras e nos unia em uma só voz, como se cada um de nós estivesse dançando e cantando com o mesmo amor e a mesma saudade.

O que aconteceu ali foi mais do que um show, era uma celebração de tudo que realmente importa. Éramos estranhos, mas, naquela noite, éramos cúmplices numa espécie de encantamento coletivo. Maurício não apenas cantava, ele nos lembrava do valor da simplicidade, dos momentos que construímos com aqueles que amamos, e do poder da música de transformar qualquer espaço em um lar.

E ali, sob as luzes do palco, em meio àquela chuva que parecia ter limpado a cidade para um recomeço, percebi que às vezes as melhores memórias são aquelas que criamos sem planejamento. Momentos em que a vida nos pega pela mão e nos faz lembrar o que realmente nos faz viver.

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