Coluna da Isa
A vida real ainda tem espaço no feed?
Isabela Ferreira
02.05.2025

Essa semana, enquanto deslizava pelo meu feed do Instagram, aquele velho hábito quase automático, me deparei com uma reflexão de alguém que admiro profundamente. Era sobre como, nos dias de hoje, estamos todos presos numa espécie de teatro da perfeição. Cada perfil, cada foto, cada legenda: tudo cuidadosamente montado para parecer impecável. E foi então que eu me peguei pensando… Em um mundo onde todo mundo quer ser perfeito, será que ser real virou o novo ato de rebeldia?

Eu entendo: hoje, o Instagram deixou de ser apenas um lugar para compartilhar momentos e virou uma verdadeira vitrine para o nosso trabalho, nossa imagem, nossa história profissional. A pressão para mostrar a melhor versão de si mesmo é quase inevitável. Mas, entre tanta edição, filtros e poses ensaiadas, às vezes me pergunto: onde foi parar o charme da imperfeição?
Tanta perfeição, afinal, beira a chatice. Sem nuances, sem falhas, sem histórias não contadas… tudo parece meio sem vida.

É irônico eu estar falando sobre isso. Logo eu, que estou há mais de dez anos sem postar nada no meu perfil pessoal. Mas existe uma razão. Em 2013, vivi um episódio que me marcou profundamente: fui vítima de um crime cibernético. Minhas fotos foram usadas para fins que me lesaram de maneiras que levaram anos para serem curadas.
Desde então, minha relação com o mundo virtual mudou. Eu aprendi, da forma mais dura, que às vezes o que entregamos de nós mesmos pode ser distorcido sem a menor piedade.

E agora, anos depois, enquanto ensaio essa minha volta, observo essa busca insaciável pela perfeição e não posso deixar de me perguntar: quando foi que ser real passou a ser tão assustador?

Talvez a resposta esteja no medo. Medo de sermos julgados. De não parecermos bons o suficiente. De não estarmos à altura de uma expectativa invisível criada por outros… e também por nós mesmos.
Ou talvez, no fundo, a gente tenha se acostumado tanto a construir versões editadas de quem somos, que até esquecemos o quanto a bagunça, o improviso e a imperfeição fazem parte da nossa beleza.

O curioso é que, mesmo com toda essa cautela, eu sinto uma saudade silenciosa do simplesmente ser. E talvez o verdadeiro ato de coragem hoje não seja se mostrar perfeito… mas imperfeito mesmo. Sem armaduras. Sem poses. Sem roteiros.

E pensando nisso, talvez essa seja justamente a resposta para o sucesso dos famosos dailys, aqueles perfis onde as pessoas compartilham seus dias como eles realmente são: sem máscaras, sem filtros, sem a preocupação de serem perfeitos.
Talvez esse também seja o segredo do destaque de nomes como Virgínia, que, entre brilhos e bastidores, mostra, na maioria das vezes, a vida como ela é: imperfeita, agitada, espontânea.

No final das contas, será que as pessoas estão realmente buscando vidas perfeitas para seguir… ou só estão desesperadas para encontrar alguém que tenha a coragem de ser de verdade?

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